Emissários de pelo menos 60 países discutirão hoje em Paris a nova página da história da Líbia, o status do
Conselho Nacional de Transição (CNT) e como organizar a reconstrução líbia. Ao mesmo tempo, governos disputam contratos para o fornecimento de produtos e serviços para a Líbia pós-Kadafi e a influência sobre o novo regime de Trípoli.
A reportagem é de
Jamil Chade e publicada pelo jornal
O Estado de S. Paulo, 01-09-2011.
Parte do dinheiro nas contas congeladas do ditador
Muamar Kadafi está sendo usada para fechar contratos justamente com os governos que lideraram a ofensiva da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Convocada pela França, a reunião deverá formalizar a liberação de quase US$ 5 bilhões em ativos de
Kadafi, os quais agora serão destinados à "reconstrução" da Líbia. A
União Europeia deverá ainda revogar as sanções unilaterais contra portos e companhias petrolíferas líbias. Um calendário para o estabelecimento da democracia em Trípoli deverá ainda ser divulgado.
O encontro foi organizado por europeus, sob críticas do Brasil, China e Rússia. Os emergentes defendem que o tema seja tratado no âmbito da ONU.
Diplomatas brasileiros disseram ao Estado que um dos pontos centrais dessa reconstrução será a liberação da fortuna de
Kadafi. China e Rússia não escondem a irritação com a cúpula convocada pelos europeus. Mas os emissários de Brasília, Pequim e Moscou admitem que um de seus objetivos na reunião é garantir que os contratos da era Kadafi sejam mantidos.
Líderes como o presidente francês,
Nicolas Sarkozy, o premiê britânico,
David Cameron, a chanceler alemã,
Angela Merkel, e a secretária de Estado dos EUA,
Hillary Clinton, querem transformar a cúpula no "nascimento internacional" da Líbia pós-Kadafi.
Eldorado
Ontem, a França anunciou que mantinha bloqueados US$ 7,5 bilhões em seus bancos e pediu que a ONU já libere US$ 1,5 bilhão. A Grã-Bretanha já tinha feito isso dois dias atrás - um voo com o equivalente a US$ 211 milhões partiu para a Líbia - e a Itália anunciou ontem a liberação de mais US$ 500 milhões.
Esse dinheiro está beneficiando justamente os países que haviam promovido resoluções na ONU pedindo que a fortuna fosse descongelada - europeus, alguns países árabes e os EUA.
Nesta semana, por exemplo, rebeldes líbios usaram US$ 44 milhões de
Kadafi para comprar trigo de produtores franceses. O pacto fechado com Paris prevê que alimentos e gêneros de primeira necessidade sejam comprados de empresas francesas. A França também emplacou a venda de escolas pré-fabricadas. O ponto mais sensível, porém, continua a ser a indústria do petróleo.
Franceses
No regime de
Kadafi, 35 empresas estrangeiras operavam no país. Em abril, o
CNT havia prometido a
Sarkozy que um terço dos contratos de petróleo ficaria com empresas francesas. A esperança de Paris é que a França seja "recompensada" por ter liderado os ataques da Otan.
Na semana que vem, uma missão com empresários da
Total,
Alstom e outras empresas francesas vai desembarcar em Trípoli para debater com a nova administração contratos para ajudar na reconstrução da Líbia. Em julho, executivos da
Total já tinham visitado Benghazi e, com o apoio do governo em Paris, fecharam contatos com rebeldes.
O Estado apurou que os novos "ministros" líbios voltarão a Paris no dia 6 para uma reunião com empresários.
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Potências definem em Paris futuro da Líbia, de olho em contratos e petróleo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU